sexta-feira, 31 de agosto de 2012

A carta de capitulação do Brasil de FHC junto ao FMI

Neliberalismo, uma ideologia zumbi

Neoliberalismo, um dogma inabalável? O corpus neoliberal é um conjunto “de ideias mortas que ainda caminham entre nós”, explica John Quiggin num livro notável. A crise deveria tê-las reduzido a pó, mas as ideias neoliberais são constantemente renovadas, segundo um processo de produção permanente, no seio de verdadeiras fábricas que funcionam como aparelhos ideológicos: instituições internacionais, universidades, think tanks. A sua legitimidade assenta na ideia de que a economia é uma ciência de leis incontornáveis. O artigo é de Michel Husson.
Michel Husson – Esquerda.net
Na França, centenas de economistas reuniram-se para dizer até que ponto estavam “perplexos” em razão das políticas levadas a cabo na Europa. Diante da crise, as medidas de apoio à atividade depressa foram substituídas por uma austeridade generalizada. Ora, esta desencadeia uma espiral recessiva que não pode resolver a questão da dívida, e muito menos do desemprego. Esta vontade cega de voltar ao business as usual vem acompanhada de uma aplicação brutal das receitas neoliberais, que se parece muito a uma terapia de choque.
Podemos falar aqui de dogma, no sentido de que o corpus neoliberal é um conjunto “de ideias mortas que passeiam ainda entre nós”, como explica John Quiggin num livro notável [1]. Ele cita cinco, entre as quais a hipótese da “eficiência dos mercados” (os preços determinados pelos mercados financeiros representam a melhor estimativa possível de um investimento) ou a “teoria do escoamento” (trickle down economics) segundo a qual o bem-estar dos “1%” acaba por beneficiar o conjunto da população.
A crise, e o aumento das desigualdades que a precedeu, deveriam ter reduzido a pó estas ideias: mas elas sobrevivem, como testemunham a ausência de medidas significativas de regulação financeira ou de redução das desigualdades. Isto acontece porque o dogma neoliberal é constantemente renovado segundo um processo de produção permanente, no seio de verdadeiras fábricas: instituições internacionais, universidades, think tanks. Estes “aparelhos ideológicos” são ricamente dotados de meios e tendem a marginalizar todo o programa de investigação heterodoxa. A sua legitimidade assenta na ideia de que a economia é uma ciência de leis incontornáveis, tão intangíveis quanto as leis da física. Este cientifismo é o fundamento sobre o qual pode construir-se o crescimento econômico.
Eis porque certos economistas podem sinceramente pensar que são depositários da razão econômica. Mas nem todos. Um grupo de economistas tomou recentemente posição “sem opção ideológica” a favor de Nicolas Sarkozy, precisando que “nem de direita nem de esquerda, a ciência econômica ajuda a deliberar as escolhas [sic]”.
Angela Merkel enunciou de maneira muito clara as “reformas estruturais” que deveriam acompanhar o “pacto do crescimento” proposto por Mário Draghi, presidente do BCE: “os custos salariais não devem ser muito elevados, as barreiras no mercado de trabalho devem ser baixas, para que cada qual possa conseguir um emprego”. Aqui temos dois artigos essenciais do dogma: o desemprego resulta de um “custo do trabalho” muito elevado e da rigidez do mercado de trabalho. Temos o direito de falar aqui de um dogma, porque esta causalidade nunca foi estabelecida. No entanto, muito se investiu para consegui-lo e a OCDE construiu mesmo toda uma bateria de indicadores com este fim.
Mas o resultado foi um fracasso: apesar dos estudos truncados, dos “consensos” duvidosos e das regras de três abusivas, nenhum resultado sólido pôde ser identificado. O último relatório da OIT (Organização Internacional do Trabalho) consagra um capítulo ao balanço desta literatura e conclui assim: “Os dados empíricos confirmam a conclusão de estudos anteriores: não existe ligação clara entre a legislação protetora do emprego e o nível de emprego”.
Promover políticas cujos efeitos contraproducentes são comprovados (recessão e precariedade) demonstra uma obstinação dogmática de que Jacques Freyssinet deu a chave: “Quando a situação melhora, isso prova a eficácia das reformas realizadas; quando a situação se degrada, isso prova a necessidade de acelerar o seu ritmo”.
Mas o dogma não é simplesmente irracional. Ele funda uma irracionalidade restrita, fornecendo elementos de legitimidade a políticas que procuram preservar os privilégios de uma camada social estreita. Neste sentido, o dogma é um dos instrumentos que permitem reforçar o poder do capital. Mas esta arma ideológica não é suficiente para contornar o grande dilema que a crise fez aparecer: o capitalismo neoliberal já não pode funcionar nas mesmas bases, mas não aceita espontaneamente outras regras de funcionamento. Só um grau suplementar de afundamento na crise e/ou uma pressão social suficiente poderia afastá-lo do dogma neoliberal.
Retirado de Salut et Fraternité, PDF no site hussonet.
Tradução de Luis Leiria para o Esquerda.net
NOTA
[1] John Quiggin, “Zombie Economics. How Dead Ideas Still Walk among Us”, Princeton University Press, 2010.


A pobreza avança na União Europeia


P)ublicado originalmente em Rebelión em 31/08/2012
(...) Según los últimos datos oficiales de Eurostat de febrero de 2012, en 2010 el 23,4% de la población de la UE-27, es decir, 115 millones de personas se encontraba en situación de riesgo de pobreza o exclusión social. Pero lo peor no es eso. Lo peor es que el retrato es aún más escalofriante si tenemos en cuenta que el 27% de los niños menores de 18 años –esto es, lo que los de Unilever considerarán en sus estrategias de ventas como los consumidores del futuro- se encontraban en esa misma situación. Ese porcentaje de niños era aún peor para el caso de España, con el 29,8% de la población de esa edad en riesgo de pobreza.
Además, si se desglosa el riesgo de pobreza y exclusión social en las diferentes dimensiones en la que lo hace Eurostat encontramos, en primer lugar, que el 16% de la población de la UE-27 se encuentra en situación de riesgo de pobreza monetaria (esto es, la que se calcula exclusivamente considerando los ingresos monetarios) y ello a pesar de que la misma se calcula después de los efectos paliativos que han debido ejercer las transferencias sociales de los respectivos estados. Ahí España tiene el dudoso honor de ser, junto a Lituania, Rumanía y Bulgaria (¡ahí queda eso!), uno de los países con mayor porcentaje de población en afectada por la pobreza monetaria: el 21% de su población (la incidencia por Comunidades Autónomas puede verse en este estudio de EAPN).
Si atendemos, en segundo lugar, a lo que se denomina “privación material severa”, esto es, personas que carecen de recursos económicos suficientes como para poder atender simultáneamente a 4 de estos 9 ítems: pagar el alquiler o una letra; mantener la casa adecuadamente caliente; afrontar gastos imprevistos; una comida de carne, pollo o pescado (o sus equivalentes vegetarianos) al menos 3 veces por semana; pagar unas vacaciones al menos una semana al año; un coche; una lavadora; un televisor en color; un teléfono (fijo ó móvil), la situación también es grave. El 8% de la población a nivel europeo (UE-27) se encuentra en esa situación siendo en España del 4%.
Y, por último, el 10% de la población europea vive en hogares en los que existe una intensidad laboral muy baja, lo que significa que los adultos de esos hogares trabajan menos del 20% de las horas de trabajo potencial que podrían trabajar. Aquí España se situaba en 2010 en la media de la UE-27 con el 9,8% de la población en esa situación y es de esperar que los datos hayan seguido empeorando como consecuencia del incremento continuado del desempleo.
Creo que no nos debería extrañar, por tanto, que ese sea el futuro que prevén empresas que dedican millones de euros a analizar estrategias de consumo y perspectivas de mercado, así que no seré yo quien les lleve la contraria por mucho que sigan mirándome como si fuera el quinto o el sexto jinete del apocalipsis.
Alberto Montero Soler (alberto.montero@uma.es ) es profesor de Economía Aplicada de la Universidad de Málaga y presidente de la Fundación CEPS. Puedes leer otros textos suyos en su blog La Otra Economía.